quarta-feira, 6 de maio de 2009

Guerreiro do Pajeú


 
Quem nasceu no Pajeú tem história pra contar

Principalmente a respeito da cultura popular

Fluindo quente dos lábios 

Até seus loucos são sábios

Alguns com certo heroísmo, trajados de combatentes

Deram provas evidentes de amor e patriotismo.

 


Pois bem, Antônio de Juvita é filho daquela terra

Criou-se vendo e ouvindo história e cenas de guerra

Antes da maioridade atacou-lhe uma vontade de ser soldado guerreiro 

E quando a guerra começou, uma noite ele sonhou brigando no estrangeiro.

 


E no desenrolar do sonho viu os campos de batalhas

Soldados enlouquecidos sob o fogo das metralhas

Capacetes estourados, restos mortais de soldados espalhados pelo chão

O mundo pegando fogo e Hitler bancando o jogo no pano da perversão. 


 

Começou a ler os jornais que reportavam o conflito

Um dia deixou a mãe em São José do Egito e foi parar no Recife

Onde pagou um cacife bem maior do que devia 

Morando com uma nega no cabaré da galega por trás da Rua da Guia


 

Quando a esquadra alemã a nossa frota afundou no ano quarenta e dois

E o Brasil declarou que estava em beligerança

Antônio ficou em ânsia para atirar de fuzil

Fez-se auto-convocado e se trajou de soldado pra defender o Brasil


 

Mandou tirar o retrato, botou dentro duma escrita

E madou pra sua mãe, a coitada da Juvita

Na carta, ele explicava que pra semana embarcava

Com fuzil bala e bizaque

Naquele exato momento, a mãe teve um passamento que quase vai pro buraco


 

E Antônio prosseguiu com a mesma obsessão

Toda semana um retrato, uma carta e um cartão

E a mãe querendo morrer

Vendo a hora receber notícias que não queria

Nem de longe imaginava que as cartas que o filho mandava vinham da Rua da Guia

 


Um retrato de combate quando o jornal estampava?

Antônio pegava a tesoura com cuidado recortava 

E mandava pra mãe vexado: 

"Mãe, conhece esse soldado de capacete amarelo e perreira avermelhada?"

Sou eu dando uma brigada num tal de Monte Castelo


 

Já prendi tanto inimigo que só quem sabe sou eu

Ontem, quase eu pego Hitler, mas o danado correu no momento que me viu

Desapareceu, sumiu

Mas, mãe, eu prometo a tu: quando eu pegá-lo indefeso

Ele vai sentir o peso dum cabra do Pajeú


 

Seu mundo de fantasia era tão admirável

Que ultrapassava a o campo do poder imaginável

Encarnava o personagem de acordo com a reportagem publicada no jornal

Sua dramaticidade tinha tanta qualidade que parecia real


 

Um dia, Antônio recortou umas fotos coloridas 

Onde aparecia um homem com as duas mãos erguidas 

E um sujeito maluco lhe apontando um trabuco no ato de rendição

E com essa matéria farta, enviou mais uma carta pra sua mãe no Sertão


 

E, nela, dizia: mãe, a senhora tá lembrada quando um dia lhe jurei que ganhava essa parada?

Olha, o Hitler aí do lado com os braços alevantados 

Pedindo pra eu salvá-lo e chorando de arrependido

Eu tô até comovido com vontade de soltá-lo

 


Na hora que eu prendi ele, a senhora não acredita

O danado olhou pra mim e disse: Antônio de Juvita?

Tu não tá me reconhecendo? Não me mate que eu me rendo

E jurou na mesma hora que quando sair daqui vai comigo até aí 

Dar um beijo na senhora

 


Ô, mãe, que conversa é essa? Té onde essa história vai?

Será que estou enganado judiando de meu pai?

Eu não tô acreditando, mas agora reparando 

Direito na cara dele

Eu vejo que o outro dançou, é por isso que eu sou meio parecido com ele

 


Pra mim, a guerra acabou

Amanhã saio daqui, vou morar no pé-de-serra, lugar onde eu nasci

Vou rever meus camaradas, viver das minhas caçadas

De preá, peba e jacú

Fazer minhas pescarias e me banhar todos os dias
Nas águas do Pajeú

Chico Pedrosa talento paraibano.

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